Chao Lung Wen - Telemedicina e Telessaúde Brasileiras

Os últimos 60 anos, a Medicina vivenciou inovações inimagináveis graças às tecnologias digitais. A incorporação de novos procedimentos e equipamentos permitiu avanços no tratamento e diagnóstico de doenças e mudanças na relação médico-paciente, influenciadas também pelo maior acesso à informação e autonomia da pessoa assistida. À medida que as plataformas on-line e as tecnologias digitais continuam a emergir, as transformações avançam em ritmo acelerado, com repercussão nos modelos de ensino e pesquisa, assim como na prática médica e na gestão de saúde.

Mas, se antes era mais difícil prever o tamanho do salto tecnológico dos últimos 60 anos, é precisamente a tecnologia que hoje permite projeções sobre o futuro mais próximas da realidade.

Na opinião do professor e líder do Grupo de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) em Telemedicina e Telessaúde (CNPq /MCTIC), Chao Lung Wen, em aproximadamente dois anos a tecnologia digital incorporará, à Medicina, novos dispositivos que ajudarão a propedêutica médica e o monitoramento de pacientes, com compartilhamento de dados à distância. Será cada vez mais frequente o uso de equipamentos portáteis de apoio a diagnóstico baseados em smart­phones. Wen cita como exemplos dessa tecnologia digital o ultrassom portátil, o dermatoscópio, oftalmoscópio, otoscópio, colposcópio, teleECG, oxímetro, estetoscopio, medidores de sinais vitais e impressoras 3D para apoio a planejamento cirúrgico.

“Para que estas tecnologias sejam bem aproveitadas, é preciso incorporar a Telemedicina como disciplina obrigatória no ensino médico”, avalia o pesquisador. “Assim, será possível fortalecer o ensino sobre ética, responsabilidade digital e técnicas de telepropedêutica”, completa.

Entre as novas tecnologias que devem ser incorporadas em médio prazo, de 4 a 5 anos, destacam-se os aplicativos para smart­phones de inteligência artificial para, por exemplo, screening diagnóstico de reconhecimento de padrões de lesões; biosensores em lente de contato para dosagem de glicemia; biochips para realização de exames laboratoriais; escâner 3D de precisão; impressora de alimentos de apoio à prescrição de dietas.

Em longo prazo, entre 5 a 10 anos, a Medicina será ainda mais futurista, com a utilização da telerrobótica para procedimentos médicos e de robôs acolhedores no apoio à atenção domiciliar, além de impressora 3D de medicamentos.

As novas tecnologias, entretanto, não serão responsáveis por mudar diretamente a relação médico-paciente do futuro, acredita Chao. “São as pessoas que mudam, seja por banalizarem os relacionamentos, seja por tornarem-se muito ‘máquinas’. Precisamos educar para melhor adequar a sociedade às mudanças sociotecnológicas do futuro”, diz.

Tecnologia e ética

A internet e especialmente as redes sociais também se tornaram temas centrais na discussão sobre ética médica, o que levou o Cremesp a editar, em 2016, um alerta sobre o uso do WhatsApp ou aplicativos similares pelos médicos. Nele, a orientação é de que, quando for atender às demandas por vias digitais, é necessário que o médico conheça o quadro clínico atual dos pacientes, para que possa orientá-los com observância ao Código de Ética Médica, particularmente com respeito ao sigilo profissional, evitando expô­­­-los em grupos.

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